Vantagens dos Sistemas Agroflorestais

Em áreas de lavoura, é comum associar a existência de florestas ao cumprimento de obrigações legais, como, por exemplo, o dever de manter a reserva legal (percentual da área do imóvel rural que deve ser mantida coberta com vegetação nativa).

 

Sob esta perspectiva, manter florestas em áreas rurais é entendido como um encargo, afinal, significa deixar de dispor de parte da área que poderia ser destinada para produção.

 

Porém, o que os estudos técnicos e a prática tem demonstrado é que a integração entre florestas e áreas de cultivo gera inúmeros benefícios para a própria produção rural! O que está por trás dessa receita mágica são os benefícios ecossistêmicos proporcionados pela biodiversidade.

 

Sistemas agroflorestais (SAFs), em resumo, são sistemas agrícolas que contemplam o plantio de diversas e diferentes espécies vegetais em uma mesma área e ao mesmo tempo. Se opõem, consequentemente, às monoculturas agrícolas (ou seja, plantação de uma única cultura) e à rotação de culturas (aquele sistema em que, após a colheita de uma cultura, planta-se outra no mesmo lugar e, posteriormente, retorna-se à cultura inicial, formando ciclos).

 

SAFs incluem árvores e arbustos nativos ou exóticos e culturas agrícolas de diferentes ciclos: ciclos curtos (colheita mais rápida); ciclos mais longos (anuais, bianuais); e espécies perenes. Isso significa maior diversidade de renda para o produtor rural que, a depender das espécies escolhidas para o SAF, terá colheita o ano inteiro. Também significa segurança alimentar e nutricional, diante da variedade de alimentos com valores nutricionais distintos.

 

Feita essa breve introdução, afinal, quais são os benefícios dos SAFs para a produção rural?

 

Toda a diversidade dos SAFs é organizada como um mosaico, de modo que uma espécie beneficie direta ou indiretamente a outra. Dito em outras palavras: a diversidade proporcionada pelos SAFs fortalece os serviços ecossistêmicos, que, por sua vez, favorece em diversas frentes a produção rural:

 

Solo

 

  • A combinação de árvores e arbustos contribui para melhorar o microclima, propiciando estabilidade na temperatura do ar e do solo e, com isso, fortalecendo o equilíbrio biológico do solo. Ao melhorar o equilíbrio biológico é possível reduzir o ataque de pragas e doenças nos cultivos agrícolas, reduzindo ou até dispensando o uso de defensivos químicos.
  • A variedade de espécies contribui para o aumento de matéria orgânica capaz de nutrir o solo, gerando maior fertilidade, estrutura e vida do solo, com a intensificação da ciclagem de nutrientes. Ao melhorar a qualidade do solo, reduz-se o risco de erosão e é possível reduzir ou até dispensar o uso de fertilizantes
  • Se pensarmos em um sistema que integre, também, a pecuária, podemos afirmar que solo com maior qualidade gera pasto com maior valor nutricional, impactando na redução da necessidade de suplementação da alimentação animal.

 

Água:

 

  • A combinação de espécies de diversas profundidades de raiz contribui para a infiltração da água no solo, favorecendo a alimentação do lençol freático e, com isso, fortalecendo nascentes e mananciais. Esse equilíbrio hídrico tente a reduzir a necessidade de arcar com sistemas de irrigação.

 

Plantação:

 

  • Ambos os tópicos mencionados acima favorecem a plantação. Solo estável, de boa qualidade, microclima adequado e segurança hídrica, promovendo a redução da necessidade de fertilizantes e defensivos químicos, propiciam culturas agrícolas saudáveis e produção com melhor valor nutricional
  • Para além disso, estes itens favorecem a atração de insetos de interesse: polinizadores (moscas, vespas, borboletas, besouros, abelhas, dentre outros) e insetos que se alimentam de pragas que atingem as lavouras. Os primeiros (polinizadores) favorecem diretamente o crescimento da lavoura; os segundos (que se alimentam das pragas) atuam como defensivos naturais, minimizando ainda mais a necessidade de defensivos químicos ou até mesmo biológicos.

 

Benefícios cruzados:

 

  • A diversidade dos SAFs forma diferentes alturas sobre a superfície e sob o solo (raízes de diferentes profundidades). Um exemplo de benefício cruzado são as árvores e arbustos que podem proporcionar sombra para as espécies que se desenvolvem melhor com luz solar indireta. No geral, todos eles, assim como os acima descritos, estão associados à boa saúde dos serviços ecossistêmicos. Isso torna desnecessária a utilização de tecnologia que teria como finalidade propiciar as mesmas condições do ambiente natural.
  • SAFs retroalimentam um círculo virtuoso: criam condições para a biodiversidade e dela se beneficiam.

 

Dos benefícios para a produção rural decorre:

 

  1. o benefício para o produtor rural: redução de custos
  2. o benefício para o consumidor: alimentos com menor adição de químicos e maior valor nutricional; e, 
  3. para não dizer que não falei de carbono: solos com maior equilíbrio biológico estocam maior quantidade de carbono e a cobertura vegetal, se comparada às monoculturas, tem maior eficiência no sequestro de carbono da atmosfera.

 

SAFs podem ser implementados em qualquer escala. Os desafios são grandes, porque o cultivo de espécies diversas exige do produtor rural maior conhecimento ou apoio técnico para estruturar o SAF e dar conta do manejo, além de ainda não haver tecnologia com vistas à mecanização tão avançada quanto se verifica em relação às monoculturas. Todavia, é possível dizer que em SAFs bem planejados os benefícios também são proporcionais

 

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Imagem: Pinterest (cpac.embrapa.br)

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